Meu Primeiro Relato - Um Resumo dos Primeiros Encontros

O primeiro passo é sempre o mais difícil. No último encontro do grupo (13/04/2019) recebemos a tarefa de criar um Diário de Bordo. Minha primeira reação mental foi: “Ai, Meu Deus! Mais uma coisa para fazer!”. O problema não é o registro em si, mas o tempo que se tem que dedicar a ele. Pensei em fazê-lo por vídeo e percebi que essa é uma barreira que preciso quebrar ainda. Detesto me ver em vídeos! Não me sinto à vontade expondo minha figura. E você deve estar se perguntando o que que estou fazendo no teatro, então. Também já me perguntei isso várias vezes e a resposta é sempre a mesma: eu me sinto feliz nas aulas e eu quero superar minhas limitações. Dito isso e primeiro passo dado, como esta foi a sexta aula, vou resumir minhas impressões dos primeiros cinco encontros:

Primeiro encontro - 09/03/2019


Este foi o encontro com o objetivo de coesão e afinidade entre o grupo. Fizemos uma atividade em que tínhamos de conversar com um colega e depois, na roda, falaríamos dele para o resto do grupo sendo ele, ou seja, interpretando o colega. Foi nosso primeiro exercício de mimese embora ainda não soubéssemos o que a palavra significava. Meu parceiro foi o Alex, um jovem esbelto de 18 anos, muito falante e que gosta de gesticular. Adorei a atividade! Foi muito divertido tentar ser ele. E naquele momento já pude sentir o quanto é difícil dar vida a uma personagem de forma crível. Nas demais atividades, contamos histórias sem pé, nem cabeça; ressignificamos objetos do cotidiano e interpretamos cenas improvisadas. Tudo regado a muita dedicação e seriedade, embora as risadas fizessem coro a cada atividade.

Segundo encontro - 16/03/2019


Recebemos três novos integrantes no grupo: Mônica e Lucca - esposa e filho de Luiz; e Adriano. Trabalhamos o corpo. Foca, um dos nossos ilustres mestres, nos deu uma aula teórica de anatomia e depois partimos para a prática. Tocamos nosso próprio corpo para conhecê-lo melhor. Andamos pelo espaço atentos aos nossos movimentos, ao nosso caminhar, a nossa distribuição de peso, ao nosso equilíbrio. Lembro-me de ter visto muita semelhança entre esses ensinamentos e as práticas marciais orientais nas quais a presença é parte importante do processo. Temos de estar presentes de corpo e alma!

Durante a semana recebemos apostilas sobre a História do Teatro e nas aulas trabalhamos esse conteúdo teórico de forma bem dinâmica. Liderados pelos queridos Brenda e Marco, nossos outros dois ilustres mestres, participamos de um quiz em que tínhamos de responder às questões de História enquanto respondíamos cálculos matemáticos ditados por um colega ao nosso lado e imitávamos os movimentos de um colega a nossa frente. O restante do grupo ficava de espectador, rindo da nossa cara, é claro. E nessa loucura toda conseguimos registrar alguns fatos sobre o Teatro Pós-Dramático , as Reações Contra o Naturalismo e o Naturalismo no Teatro.


Terceiro encontro - 23/03/2019


Neste encontro trabalhamos um pouco mais de História. E tivemos nosso primeiro contato com exercícios vocais. O trabalho teórico também foi de forma dinâmica e mais uma vez nos vimos pulando, respondendo cálculos matemáticos e perguntas sobre os Teatros Elisabetano e Grego e a Commedia Dell`Arte. O exercício de voz incluiu trava línguas e entonações. Meu trava língua preferido foi: “Traga depressa três pratos de trigo para um tigre triste.” (Que, aliás,  ainda não consegui falar três vezes seguidas sem travar). Vida que segue...

Quarto encontro - 30/03/2019


Esta foi a vez de entrarmos no mundo mágico da produção teatral. Conhecemos como se faz para montar uma peça teatral e trememos nas bases ao perceber que o buraco é bem mais embaixo do que se imagina. Há de se pensar em praticamente tudo: espaço, figurino, texto, iluminação, maquiagem, cenário, divulgação. Sabe aquela vontade de sair correndo? Pois é. Muitos se sentiram assim. E foi possível perceber o quanto é importante a participação de cada membro do curso no processo. É um por todos e todos por um, no belo estilo dos Mosqueteiros de Alexandre Dumas.

Na segunda parte da aula viramos bichos. Sim, cada colega teve de encarnar um bicho. É a tal da técnica chamada de mimese que mencionei acima. Eu escolhi a coruja, com quem me identifico e já
tenho uma história de longa data (mas isso não vem ao caso agora). Foi um processo muito interessante para mim. Tentei me transportar para o habitat natural da coruja. Em minha mente eu via as montanhas rochosas, o céu azul, as vítimas da minha fome passeando pelo chão enquanto o meu olhar de coruja as seguiam do alto  da árvore em que eu estava pousada. Eu voei pelo espaço, pousei para me alimentar, arregalei os olhos e movi a cabeça como as corujas. Bem, pelo menos eu tentei… Ao final dessa atividade tivemos de interpretar uma personagem que tivesse alguma característica do animal que tínhamos escolhido. Foi um exercício muito gostoso de fazer.

Quinto encontro - 06/04/2019


Começamos com uma meditação guiada. Foca queria nos colocar na mesma sintonia para introduzir o tema da Voz. Depois da aula teórica sobre o aparelho vocal, fizemos alguns exercícios. Enquanto emitíamos alguns sons, tínhamos de tocar a cabeça, peito e garganta para perceber onde os sons vibravam. Eu nunca tinha feito isso antes e me surpreendi ao perceber como a cabeça pode vibrar conforme emitimos um determinado som. A prática que se seguiu a este exercício foi interpretar uma personagem sugerida por seu colega na qual a voz tivesse papel fundamental. Minha parceira, Hiáscara, me deu um velho de 70 anos, rabugento, mas carinhoso. Consegui trazer o corpo do velho, caricato e clichê, eu concordo, mas não consegui manter a voz que além de velha, teria de ser masculina. Atuar é bem mais difícil do que se pensa.

Sexto encontro - 13/04/2019


E finalmente chegamos ao dia que deu o pontapé inicial a este projeto de Diário de Bordo. Durante a semana recebemos a tarefa de pesquisar sobre Samuel Beckett, Maria Clara Machado, Eugene Ionesco, Sarah Kane, Heiner Muller e Plínio Marcos. Também nos pediram para trazer alguns acessórios e maquiagem. Desta vez trabalhamos o conteúdo teórico com uma “competição”. Fomos separados em dois grupos e cada grupo recebeu um pacotinho com recortes sobre os dramaturgos que estudamos em casa. O grupo que tivesse mais combinações corretas seria o vencedor. Acabou que a fixação do conteúdo foi mais importante do que a contagem dos pontos e todos saímos ganhando. Neste dia também escolhemos o nome do nosso grupo e dentre as sugestões : Pocaria, Ensaio, Cria e criAtua, optamos por criAtua, sugestão de Emmerson, combinação das ações CRIAR e ATUAR que é o nosso propósito como grupo.
De prática tivemos de pensar o cenário da peça que nos foi dada a estudar como se tivéssemos uma verba de R$100.000,00 e fazer a primeira leitura do texto. Hiáscara e eu pegamos o texto mais “leve” porque ficamos com as duas crianças do grupo, meu filho, Igor e o Lucca, filho de Luiz e Mônica. Este é um grupo família!

Nosso texto é   “A Cantora Careca”, de Eugene Ionesco ( Teatro do Absurdo). Achei dificílimo pois é
cheio de bifes (falas longas) o que me despertou o meu maior temor no teatro que é não conseguir memorizar as falas. Também não encontrei uma forma de encaixar as crianças ainda. Por enquanto, elas serão os relógios da sala e elas apresentaram uma excelente solução para seus figurinos usando os acessórios que trouxemos de casa: Os dois em pé um ao lado do outro, um segurando um capacete em frente ao corpo e o outro segurando uma medalha e batendo-a contra o capacete para simular o tic-tac do relógio. Crianças são incríveis! Como não teremos encontro no próximo sábado devido ao feriado, pensei em adaptar uma parte do texto para que eles também tenham a chance de interpretá-lo. E assim termino esse primeiro passo (bem largo, por sinal) dessa longa jornada pelas maravilhas das práticas e montagem de uma peça teatral. Até o próximo encontro!

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