Hoje não é o último dia


Conforme já foi descrito pela Taty (a mãe de todos com um carinho no olhar), após um mês e meio chegamos ao registro das atividades. A cada semana uma pessoa irá expor o que absorveu das atividades.

Até aqui tudo o que tenho vivido fez muito sentido e me acrescentou como artista e como pessoa. Acredito que como pessoa, toda a experiência tem sido transformadora. Como um bom virginiano que sou, sou crítico comigo mesmo e busco, cada vez mais, minha evolução.

Dividir o mesmo espaço com profissionais de diversas áreas, com experiências de vida diversas e com uma bagagem artística impar é enriquecedor.

Nossas diferenças fazem com que o brainstorm seja uma das melhores partes da aula.

Neste encontro especificamente, trabalhamos sobre figurino, cenário, maquiagem e interpretação. Para nortear estes estudos, foram indicados grandes nomes da dramaturgia para que pudéssemos pesquisar sobre e entender sobre. 

Após algumas indicações de como podemos utilizar todas essas ferramentas de composição do teatro na criação de conceitos, nos dividiram três grupos e cada um ficou com um breve trecho de um texto famoso dos nomes estudados.

O grupo do qual faço parte, composto por Luiz (um pai com jeitinho de menino e uma energia maravilhosa), Adriano (um empresário com sangue empreendedor e muita visão) e o Alex (um dos mais jovens da turma com muita disposição), ficamos com o texto de Sarah Kane Psicose 4:48.


A escolha do texto inicialmente foi feita por mim, quando disseram que se tratava de um texto com conteúdo mais pesado e denso por se tratar de suicídio nem hesitei. Além de amar desafios me identifiquei com o tema, por ter vivido situações semelhantes. Nossas vivências podem colaborar muito com a construção e percepção dos temas.




Sarah Kane foi uma dramaturga inglesa que teve uma vida curta na cena artística. Suas obras são carregadas de muita emoção, sentimentos profundos e conflitos psicológicos. Foram seis textos em quatro anos e o último, Psicose 4:48 marca o fim de sua carreira. Após duas internações em clínicas psiquiátricas e uma overdose com remédios a escritora se suicidou por enforcamento no banheiro de um hospital aos 28 anos.

A tarefa proposta é, supondo que tenhamos R$ 100.000,00 criar uma apresentação deste texto para o teatro. Pensando em figurino, cenário e maquiagem.

Primeiro lemos o texto para entender a proposta e logo em seguida ouvimos uns aos outros para ter ideia de como montar essa apresentação. Ao final desta chuva de ideias, definimos:

Personagens / Figurino / Maquiagem

Personagens do sexo feminino e que seria retratado em 4 situações distintas. Mas em todos seria a mesma personagem. Como diferenciação uma será rica, outra de classe média, outra adolescente e uma em situação de rua.

A mulher rica teria entre 30 a 45 anos empresária, fria e calculista. Usa um hobby cinza escuro, quase preto, maquiagem carregada e unhas vermelhas. Casada com um desembargador, mãe de dois filhos e nunca precisou trabalhar. Trai seu marido desde a segunda gravidez com o pediatra de um dos seus filhos e com o motorista da família.

Já a personagem de classe média traja calça preta e blusa polo cinza. Usa um batom vermelho. É uma mulher cansada, passando por crise financeira e já sem expectativa de futuro. Trabalha para sobreviver. Solteira e não tem filhos.

Na adolescente encontramos uma jovem de 17 anos, estudante, cabelos longos, uniforme escolar com saia preta e blusa cinza. Usa maquiagem leve. É uma menina que não transmite seus sentimentos. Usa pulseiras vermelhas. Perdeu a virgindade aos 13 anos com um primo 22 anos mais velho e desde então perdeu a ingenuidade.

A moradora de rua é uma mulher aparentemente jovem com no máximo 30 anos. Não tem mais esperanças na vida, no mundo e nas pessoas. Usa um vestido rasgado preto e um cobertor cinza. Seu rosto é sujo e aparenta marcas de agressão. Ao seu lado uma tigela plástica vermelha. Não se sabe se ela tem filhos ou família.

Cenário

O cenário seriam quatro lugares independentes construídos como subdivisões de um contêiner. Todos os ambientes retratam locais para se dormir. Em todos existe uma janela com visão abrangente de onde o imóvel está localizado.

O primeiro é um quarto de hotel luxuoso. Cortinas de tecido fino em tons claros. Um abajur em modelo tradicional na cor cinza. Uma janela grande com detalhes em arabescos dourados, e a janela com visão da Wall Street em Nova York. Uma cama grande com lençol branco e deitado nele um homem de costas para a plateia, com parte do corpo coberto pelo lençol.

No segundo ambiente um quarto pequeno com uma cama de solteiro antiga de madeira duvidosa na cor marrom. Paredes em tom bege com manchas de infiltração. Na parede um pôster de um grande astro do futebol mundial. Ao fundo, uma janela com divisões superiores em vidro e abaixo aberturas laterais e por ela a visão da periferia. Casa sobre casas. Um interruptor preto na parede lateral direita.

Com relação ao terceiro quarto, o da jovem, encontra-se uma escrivaninha e um notebook preto. Uma cama de solteira box com colchas em microfibra dupla face. Almofadas com estampas da cultura pop. Um celular I Phone 4 com capa vermelha. Pela janela, de modelo tradicional com madeira e vidros transparentes a visão para outros prédios de um condomínio de classe média. O quarto está com luz baixa e a iluminação que mais se destaca é a do celular.

Para a personagem moradora de rua o fundo é uma rua escura, com chão molhado. O local onde ela dorme são dois pedaços de papelão e um caixote de madeira ambos na cor vermelha. Na lateral um poste com luz amarela. Nas laterais percebe-se que é uma rua residencial e todas as moradias com as janelas fechadas.

Na frente destes espaços, na frente do palco uma forca que descerá somente ao final de todas as falas.

Ação

Conduzida por iluminação direcionada, cada personagem irá fazer sua cena em seu espaço delimitado. Todas falam as mesmas falas, algumas com menos frases outras com apenas tópicos, mas tudo é a mesma fala.

Iniciando pela rica, ela finaliza a sua fala apagando o abajur que faz com que a luz do quarto da moradora de periferia acenda. Esta que ao terminar sua cena irá desligar o interruptor que acenderá a luz do celular da jovem. Após o celular desligar se acenderá a luz do poste.

Todas as personagens tem um “tique” nervoso ao desligar a luz. O medo de ficar no escuro.

No encerramento das falas da moradora de rua a forca desce na frente do palco e inicia-se uma contagem. Em ordem decrescente todas começam a contar desordenadamente até que ao chegar na contagem de 5 cada uma dirá um número e ao chegar em 1 todas estão com olhar fixos na forca e apagam-se as luzes.

Após esta construção, em roda, todos contaram como foram suas ideias. É muito bacana ver a criatividade e a não existência de limites nas possibilidades. É gratificante de mais ouvir os feedbacks dos colegas e ver o seu envolvimento com as propostas. Não tem como não se encantar com Osvaldo e suas pontuações sobre as ideias que o faz fazer parte de cada criação. Juro que, às vezes, sinto medo do olhar crítico da Liandra (uma das alunas da turma que já tive como professora e é referência de profissional de comunicação para mim), sempre acho que ela vai me reprovar! Kkkk

Quem estiver lendo isso e não conhece a Brenda, o Marco e o Foca, nos faça uma visita. É apaixonante.
Agora nos resta esperar a próxima CENA.




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